A PSICOTERAPIA EXISTENCIAL





O vocabulário da psicologia existencial já está impregnado na linguagem cotidiana: fala-se livremente em “crise existencial”, indicando a ampla difusão que esta abordagem tem tido. A psicoterapia existencial também tornou-se área de domínio público. E muitas práticas se definem existencialistas indevidamente, por carecerem de definição teórica, sem nenhum correlato com os pressupostos da filosofia existencial.


A psicologia existencial está intimamente ligada e relacionada com a filosofia existencial. Quando pronunciamos a palavra existencialismo, a primeira coisa que escutamos é a palavra existência, que por sua vez, contrapõe essência. Historicamente anterior, essentia, deriva do latim esse, e significa ser. Quando os latinos se entregavam à meditação filosófica, a pensar aquilo que é, diziam pensar na essência da coisa. Muito mais tarde, surgiu a palavra existentia, existência, derivada do verbo existere, que significa sair de uma casa ou de um esconderijo; um movimento para fora.




Os principais pensadores da filosofia existencial são Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e Sartre. As reflexões de Kierkegaard são a base do pensamento filosófico existencial, mas encontramos antecedentes desde Sócrates, quando pregava “conhece-te a ti mesmo”, ensinando que o conhecimento de si é a condição essencial para o indivíduo realizar a arte de viver. Daí, chamar-se existencialista toda filosofia que trata da existência humana. Cada filósofo existencial tem em comum a preocupação em compreender e explicar a existência humana, a preocupação com a valorização da existência pessoal.

Na literatura, encontramos autores que, embora não tenham sido filósofos, aprofundaram suas reflexões sobre a condição humana em seus aspectos mais íntimos e subjetivos: Dostoievski, Tolstoi, Oscar Wilde, George Sand, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, Vinícius de Morais, Rainer Maria Rilke, Ligia Fagundes Teles entre outros.

Os diversos escritos existencialistas, mostram uma maneira singular de reflexão da existência a partir da própria existência. O pensamento existencialista é aquele que questiona, que se rebela contra o quietismo e a resignação. É uma maneira de o homem expor a si mesmo, é a expressão de uma experiência singular e individual.

Assim, vemos Kierkegaard, um homem angustiado, de espírito rebelde e sensível, gritando seu inconformismo e propondo novos valores: “A busca da essência não é senão um artifício dos homens que tratam de ruir com a realidade esquematizando-a; o pensamento não possui validade se não se tem em conta quem o pensa; as generalizações são apenas modos de esconder os verdadeiros problemas que são sempre individuais e únicos”.

A “existência precede à essência” é a afirmação que caracteriza o existencialismo. O homem é o seu próprio projeto, o que projeta ser, e não existe antes desse projeto. Isso significa que a cada momento o homem precisa escolher o que será no momento seguinte; só existindo poderá ser. O ser particular e concreto, responsável e livre, tornando real sua própria essência.

A Psicoterapia Existencial é construída de maneira nova a cada momento e em cada encontro terapêutico. Jamais na generalização de comportamentos, nem na sistematização dos padrões de análise e conduta humanas. A Psicoterapia Existencial não aceita e não admite nada que não seja a existência humana como contraponto de suas análises. Seu princípio básico é a compreensão do Ser em sua totalidade, partindo do seu próprio ângulo, analisando a estrutura da sua existência humana, como criador de si mesmo e do seu mundo.

“Ser ou não ser, eis a questão” (Shakespeare).


Eliana Bess d’Alcantara – CRP 05/33535

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