BULLYING E CYBERBULLYING



Nas últimas semanas tenho sido procurada por pessoas que querem falar sobre maus tratos e humilhações que estão sofrendo no ambiente de trabalho e familiar. No consultório atendo jovens que ainda experimentam as consequências psíquicas e comportamentais da violência que sofreram na escola e também no mundo virtual. É na escola onde o bullying mais acontece, porém neste artigo desejo destacar que este comportamento deixou de ser um fenômeno exclusivo da área escolar, ocorrendo em outras esferas das relações humanas. 

O bullying é um fenômeno contemporâneo e tem ganhado cada vez mais espaço na conversa em geral, especialmente entre pais e educadores no Brasil e no mundo. Trata-se de uma prática que compreende comportamentos em diversos níveis de humilhação e violência, que vão desde gozações e brincadeiras inoportunas, como colocar apelidos, discriminar e ignorar colegas, até ações altamente agressivas, de maneira constante e repetitiva, feitas com a clara intenção de prejucar a vítima. O bullying pode ser praticado de forma verbal, física, moral e sexual. Sem tradução para o português, o termo tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo significa intimidar, amedrontar, ameaçar, tiranizar, oprimir, maltratar. Quem primeiro associou a palavra ao fenômeno, foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendência suicidas dos adolescentes, descobriu que a maioria deles tinha sofrido algum tipo de ameaça. 

Infelizmente, o bullying também ocorre nas relações familiares. O assédio moral no cotidiano da família tem efeitos avassaladores. Vítimas e agressores podem vir de famílias cujos pais, ou também tios e avós, apresentam comportamento intolerante, incapazes de aceitar o diferente. De lares onde a maneira habitual de resolver os conflitos é através de agressões verbais, com gritarias e xingamentos, sem nenhum diálogo, e muitas vezes com violência física. Em tais circuntâncias, o que acontece é uma gradual deterioração dos sentimentos internos do membro da família vitimizado, podendo ele desenvolver um comportamento submisso, acuado e retraído, incapaz de reagir, ou de igual intolerância, rebeldia e agressividade, como consequência da desestabilização do ambiente doméstico. Por outro lado, os pais indiferentes, omissos e permissivos, que não delimitam as fronteiras, que não estabelecem regras e limites, que renunciam ao seu papel de educadores, constroem um ambiente familiar de aparente harmonia, mas seus filhos não amadurecem e desenvolvem um comportamento egocêntrico, agressivo e inconsequente, não apenas em casa, que têm como referencial, mas também em sociedade. Crianças que crescem em qualquer um desses ambientes, tornam-se despreparadas para enfrentar os desafios da vida. 

Quando nos referimos à prática do bullying nas relações profissionais, a palavra mobbing, ou assédio moral, são as mais usadas. Acontece nas empresas entre diretores e chefes e seus subordinados, ou entre os próprios colegas. Empregados domésticos também podem ser vítimas de bullying. Abuso de poder, intimidação e prepotência, pressão psicológica, são formas comumente usadas para manter a vítima sob seu poder e controle. Neste ambiente perverso, o trabalhador adota um atitude de submissão doentia pela constante humilhação que sofre, resultando em prejuizo evidente de sua capacidade laborativa e no aparecimento de diversos sintomas psicossomáticos, tais como, cefaléia, cansaço crônico, insônia, dificuldades de concentração, alergias, diarréias, entre outros. Segundo a médica do trabalho Margarida Barreto, em “Uma jornada de humilhações”[i], nas categorias profissionais mais sujeitas ao mobbing, estão os profissionais de saúde, de educação, de telemarketing, de comunicação e os bancários. 

E quem tem o propósito de ferir os sentimentos do outro, encontrou na tecnologia uma poderosa arma. Agindo na sombra, por trás do anonimato facilitado por um nickname e um falso perfil - que permite a cada um forjar a imagem que quiser - os praticantes do bullying virtual usam o Orkut, Facebook, MSN, MySpace, YouTube, Skype, Twitter e outros sites de relacionamentos. Usam também blogs e fotoblogs, celulares e e-mails, para constranger e humilhar, intimidar, difamar e ameaçar suas vítimas, através de mensagens de texto, fotos e vídeos feitos com ou sem o consentimento da vítima. Essas imagens podem ser alteradas com montagens contrangedoras que são divulgadas na rede. Chamamos então de cyberbullying a forma virtual de praticar o bullying, que também pode ter objetivos profissionais, religiosos e políticos. 

Na prática não há muita diferença entre o bullying virtual do bullying offline. O objetivo é o mesmo. Ocorre que o espaço virtual é ilimitado, e o poder de agressão se amplia e se alastra rapidamente, tornando o bullying ainda mais perverso. Na internet, quando uma mensagem ou imagem é postada e visualizada por terceiros, imediatamente a característica da repetição se concretiza, os insultos se multiplicam rapidamente, e ainda contribuem para contaminar outras pessoas que conhecem a vítima. Se no bullying offline a atitude de violência atinge somente a pessoa por meio de um grupo restrito - e dentro de um ambiente e momento específicos - a internet possibilita que muitas outras pessoas, inclusive desconhecidas, se tornem cúmplices, o tempo todo, e em qualquer lugar onde estejam conectadas. No mundo real, é mais fácil identificar o agressor, mas no mundo virtual, a tecnologia muitas vezes torna difícil essa indentificação, pois quando postamos uma imagem ou uma mensagem numa rede social, por exemplo, perdemos o controle sobre ela. As páginas consideradas ilegais podem ser apagadas nos sites de origem, mas o seu conteúdo pode ter sido copiado e estar em qualquer computador. As consequências experimentadas pelas vítimas do cyberbullying são iguais às das vítimas do bullying offline, resultando em problemas de saúde física, emocional, mental, e em casos extremos, no suicídio. 

Quando se trata de bullying e cyberbullying, é comum pensar que há apenas duas pessoas envolvidas: a vítima e o agressor. Mas existe um terceiro personagem fundamental para a continuidade do conflito: o espectador. Ele é uma testemunha dos fatos, que não sai em defesa da vítima, nem se junta aos agressores. Essa atitude passiva pode ocorrer por medo de também ser alvo dos ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido. Ele pode ter senso de justiça, mas não indignação suficiente para assumir uma posição clara. Mas há também o espectador ativo, que age na torcida, reforçando a agressão e incentivando. Estes retransmitem as mensagens, e por isso são coautores e corresponsáveis. 

Algumas dicas para você fugir das situações de cyberbullying 

1. Pense bem no que você posta – Tenha cuidado ao divulgar informações pessoais até mesmo com quem você conhece através de e-mail particular, mensagens de texto por celulares, e nas redes sociais. A informação pode ser copiada e tornada pública por qualquer pessoa que tenha tido acesso. 

2. Seja educado quando estiver online – Haja corretamente, trate as pessoas de modo respeitoso, como gostaria de ser tratado. As chances de sofrer cyberbullying aumentarão se você for maldoso ou desrespeitoso com alguém enquanto estiver online. Nunca envie uma mensagem a alguém quando estiver com raiva ou mesmo chateado. Espere até ficar calmo e ter tido tempo para pensar. Garanta que suas mensagens sejam escritas de forma calma e com clareza. Será difícil reparar os efeitos de uma mensagem enviada com raiva. 

3. Não fique online ou conectado por muito tempo. Dê uma pausa, fique offline. Passe mais tempo com sua família e amigos, e em atividades diferentes. 

Se você está sendo vítima do cyberbullying: 

Antes de tudo, é importante saber distinguir quando uma pessoa está sendo grosseira e quando está efetivamente assediando. Se alguém lhe disser ou fizer algo desrepeitoso, o melhor a fazer é ignorá-la, bloqueá-la, e remover os comentários. 

1. Não responda, não revide – O que os cyberbullies querem é que você responda, que tente se defender, que lhes dê satisfação, porque querem saber o quanto você ficou preocupado e chateado com medo do que possam fazer. Bloqueie totalmente a pessoa e reporte como spam se for um perfil falso. Responder, mesmo que não esteja sendo desrespeitoso, estimula e encoraja mais ameaças, além de divertir o agressor. 

2. Não apague ou exclua as mensagens, imagens ou conversas ofensivas de cyberbullies. Elas são a sua evidência de que está sendo ofendido. Use o print-screen, imprima, mas também deixe-as guardadas no computador para que a origem das mensagens possa ser rastreada, se for necessário. 

3. Formas mais sérias de cyberbullying devem ser denunciadas à polícia, nas delegacias especializadas em crimes virtuais. Também devem ser relatadas aos provedores de serviços de e-mail, celular, mensagens instantâneas, redes sociais, vídeos, ou qualquer outro serviço online que utilize, informando que você está sendo intimidado. Se o conteúdo for ilegal, as páginas com mensagens ou imagens poderão ser removidas, e em casos extremos, o provedor poderá fornecer as informações necessárias para a investigação de processos legais. O autor das ofensas poderá ser processado por calúnia, injúria e difamação. Caso seja menor de 16 anos, os pais serão processados. Se o menor tiver entre 16 e 18 anos, responderá junto com os pais. Se for maior, será o responsável pelos crimes. 

4. Não guarde para si mesmo. Não fique sozinho. Você não está sozinho. Converse com um adulto se você for adolescente, ou com alguém de sua confiança. 

Para todos: 

1. Não participe – Mesmo se você não for alvo das agressões virtuais, não participe, não assista a outra pessoa ser intimidada. Recuse-se a publicar ou a reencaminhar imagens, vídeos e mensagens que contenham cyberbullying. Bloqueie a comunicação com os cyberbullies e peça aos seus amigos que façam o mesmo. Denuncie. Defenda a vítima e relate a alguém de confiança que possa ajudar a tomar as providências necessárias. 

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[i] SILVA, Ana Beatriz Barbosa e – Mente Perigosa nas Escolas – Bullying. Rio de Janeiro. Objetiva. 2010 




Eliana Bess d’Alcantara - CRP 05/33535

3 comentários:

Sonia Salim disse...

Eliana, o texto é excelente! Precisa ser divulgado para maior esclarecimento das pessoas em relação a esse comportamento tão comum e ao mesmo tempo difícil de ser combatido. Gostei das dicas para fugir do cyberbullying, pois é algo que precisamos estar cientes quando usamos as redes sociais. Enfim, foi muito importante ler e tomar posse de informações valiosas.


Grande abraço!

@soniasalim

Anônimo disse...

Texto valioso, obrigada por compartilhar.
Abraço, Sonia

Eliana Bess d'Alcantara disse...

Oi Sonia Salim e Sonia! Fico feliz por terem gostado e deixado um comentário. Espero que aproveitem mesmo as dicas.
Abraços
Eliana