EU, PERDOAR?

O filme, O Misterioso Caso de Benjamim Button, conta a história de Benjamim, que mesmo sendo um bebê, nasceu com a aparência e doenças de uma pessoa de mais de oitenta anos. Sua mãe Caroline, morreu logo após o seu nascimento, e seu pai, Thomas Button, temendo que se tornasse um monstro, abandonou-o numa casa de idosos, sendo aceito e adotado por Queenie, a administradora daquela casa.


Assim, Benjamin vai crescendo sem saber de sua família biológica. Com o passar do tempo, em lugar de envelhecer, ele rejuvenesce. E como era de se esperar, decide sair de casa para buscar suas próprias experiências e vivências.

Após alguns anos Benjamim retorna, e seu pai que no passado, vez por outra se aproximava anonimamente, agora doente se aproxima mais uma vez, para contar que é o seu pai biológico, e que pretende deixar-lhe sua fábrica de botões e todos os seus bens como herança.

A sequência não mostra como Benjamin elaborou e tornou assimilável para si essa súbita revelação, mas, quando o pai está próximo da morte, ele o leva para ver o nascer do dia à margem do lago, na casa de verão da família, onde desde criança sua mãe gostava de estar. Ali, ao lado do pai, diz para si mesmo:

- “Você pode ficar zangado como um cão raivoso pela maneira como as coisas aconteceram, pode praguejar e amaldiçoar o seu destino, mas quando chega perto do fim, tem que perdoar”.

O perdão é uma escolha, é um ato do livre arbítrio. Não depende de emoções ou de sentimentos. Não depende do intelecto, porque não há o que se possa compreender sobre as razões e os motivos que o outro teve para fazer o que fez. Nem da vontade, porque se quiser esperar ter boa vontade para perdoar, pode morrer sem fazê-lo.

Perdoar não é uma escolha fácil, mas é possível. O primeiro passo é deixar vir à tona toda a mágoa, lembrar-se do assunto, dos conflitos, de todo o conteúdo guardado. E permitir que todos os pensamentos e fantasias se manifestem; todas as emoções e sentimentos, toda a raiva, toda a vontade de vingança. É preciso falar sobre eles, chorar a dor e expressar todos os sentimentos que tem a respeito.

Isso pode demorar algum tempo, porque será necessário romper com todas as barreiras que encobrem os sentimentos, e que todos estes conteúdos doloridos sejam bem trabalhados. Depois, temos então, duas opções: manter tudo aquilo vivo dentro de nós, ou nos desfazermos deles, decidindo, escolhendo, simplesmente, perdoar.

Se a decisão for pela primeira opção, não há nada de novo a fazer, apenas manter-se cultivando a mágoa e o ressentimento. Essa escolha implica na possibilidade de, com o passar do tempo, desenvolver queixas físicas diversas, com sintomas múltiplos que podem envolver diversos sistemas orgânicos.

Se tomar a decisão de perdoar, o segundo passo é transformar a escolha em ação. Se para chegar a esse ponto foi necessário superar todas aquelas barreiras internas e externas, para efetivar essa escolha será um verdadeiro desafio, porque todas aquelas barreiras transpostas irão se opôr à essa escolha. Tudo dentro de nós vai resistir, será uma verdadeira guerra.

Perdoar é uma escolha do livre arbítrio, mas é também um processo, uma caminhada, que lhe permite ser cada vez mais livre para continuar decidindo a própria vida e viver da melhor forma a sua existência.



Eliana Bess d'Alcantara - CRP 05/33535

1 comentários:

Lídia Laignier disse...

Eliana.. gostei muito do q escreveu aki.. se escolhessemos perdoar mais aproveitariamos mais a vida de alma leve. bjus pra vc