AGIR X REAGIR

O colunista Sydney Harris conta uma história em que acompanhava um amigo à  banca de jornal. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desceram pela rua, o colunista perguntou:
- Ele sempre te trata com tanta grosseria?
- Sim, infelizmente é sempre assim.
- E você é sempre tão polido e amigável com ele?
- Sim, sou.
- Por que você é tão educado, já que ele é tão inamistoso com você?
- Porque não quero que ele decida como eu devo agir.


Este diálogo me faz pensar no modo como cada pessoa pode exercer sua influência pessoal desenvolvendo sua capacidade de autodeterminar-se, e agir conforme ela mesma decidiu ser. Todos nós somos livres para escolher e decidir o modo de vida que queremos ter, e, independente do outro, ou do modo como estivermos nos sentindo num determinado momento, sermos capazes de agir com segurança e amabilidade, dominando-nos a nós mesmos. Embora possa parecer, isso não quer dizer que não devemos expressar nossos sentimentos. Não podemos ignorá-los pois corremos o risco de perdermos contato conosco mesmo, com nossas próprias qualidades humanas. Sentir é uma característica fundamental do ser humano, e não só nos pensamentos, mas na maneira como nós sentimos e nos expressamos, que somos diferentes uns dos outros.

Conviver é difícil. O outro está sempre presente em nossa vida, trazendo alegrias, preocupações ou aborrecimentos. Não podemos evitar a convivência em família, no trabalho, na faculdade, tampouco com aqueles que prestam serviços para nós. Quantas vezes insistimos em criticar o outro, exigindo atitudes e comportamentos iguais ao nosso, porque gostaríamos que ele tivesse os nossos valores e princípios, pensasse igual, ou fosse tão educado quanto nós. Ou ainda, queremos receber expressões de amor e afeto da mesma maneira que demonstramos. Mas também no amor, cada um tem sua própria maneira de expressar e demonstrar o amor que sente.

Outro dia ouvi de alguém: -“Não cobro do outro aquilo que não posso esperar de mim”. Está certo? Parece, mas não está. Porque eu sou eu, o outro é o outro. Aquilo de que sou capaz, o outro talvez não seja, porque ele é diferente de mim, e certamente não vou encontrar ninguém igual a mim. As experiências de vida de cada um de nós são diferentes, e mesmo entre irmãos, as mesmas experiências são percebidas de modo diferente. Sendo assim, cada um tem seu jeito próprio de expressar seus sentimentos e emoções, tanto as positivas, quanto as negativas. Mas não basta não cobrar, é importante aceitar o outro como ele é, e deixá-lo ser como ele quer ser. Não é necessário comprender os seus motivos e razões, nem mesmo concordar com ele. Para aceitar o outro, primeiro é preciso conhecer-se a si mesmo, seus próprios sentimentos e pensamentos, suas emoções e reações. Isto é, a sua própria maneira de sentir, pensar e se expressar, reconhecendo como legítimos os sentimentos e pensamentos que tem. Conhecendo-se,  poderá aceitar-se, permitir-se ser como é, e aceitar o outro com suas diferenças, podendo até compreender sua realidade existencial, seus sentimentos e pensamentos. Ou simplesmente aceitá-lo, se não puder compreender.

Você pode viver a possibilidade de ter o comando de sua própria existência. Pode desenvolver-se e conquistar uma vida mais autêntica, autônoma e autodeterminada, ser seguro e compromissado consigo mesmo, tanto no nível dos sentimentos, quanto dos pensamentos e ações. Quando você se conhece e aceita seu próprio jeito de sentir e se expressar, e é autor dos seus próprios pensamentos e ações, está se fortalecendo internamente, para cada dia escolher viver agindo e não reagindo, sendo ator e não expectador de sua existência. 

“As possibilidades são inúmeras quando decidimos agir e não reagir”. (George Bernard Shaw)


Ilustração extraída do livro "Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?" De John Powell.


Eliana Bess d'Alcantara - CRP/05/33535

3 comentários:

Danielle C. F. Barboza disse...

Oi, Eliana, que texto lindo!!! Me fez refletir sobre o quanto precisamos ser proativos, influenciar ao invés de ser influenciados por aquilo que não temos controle. O outro sempre será o outro, por mais que o amamos e somos amados por ele, ainda assim não seremos um só. A bíblia diz: uma só carne e um só coração! Algumas pessoas entendem isso como sendo um se anulando diante do outro, submissão. Eu vejo como: respeito, amar o outro como a si mesmo, com a suas diferenças, com os seus defeitos. Adorei!!! bjs... @Daniellecfb

Vida F. disse...

Oi Eliana,
Te li pouco, mais tenho certeza que vou encontrar muita ajuda em tuas palavras, pois depois que parei de usar drogas estou no processo de me conhecer, me encontrar e tb aprender a conviver com o próximo, sem que o próximo não seja mais prioridade que eu mesma, muito dificil pra mim a convivencia com as pessoas e "nossas" diferenças ( me lendo vai entender).
Momento de descobrir quem eu na verdade pouco soube que existia: eu mesma.
Beijos, amei tua visita, fique comigo, vou estar sempre aqui.

LUANA disse...

PRECISAVA LER ISSO!! OBRIGADO