VOCÊ ACREDITA NO AMOR?




Vez por outra alguém pergunta: - “Você acredita no amor?”  Alguns logo afirmam que não acreditam. Geralmente, quem assim pergunta, ou afirma, está se referindo ao sentimento apaixonado por uma outra pessoa, ao amor entre casais que vivem uma relação. Mas se procurarmos no dicionário uma definição para a palavra amor, veremos que a lingua portuguesa faz referência ao amor em todas as manifestações existentes.

Falamos de amor próprio, amor ao próximo, amor fraterno, amor filial, amor materno e paterno, amor às artes, amor ao trabalho, amor a Deus, mas principalmente, a palavra amor é o referencial de compreensão ao amor romântico e erótico – nós vivemos uma “relação amorosa” e nós “fazemos amor”.  Então queremos exercer, praticar o amor que experimentamos, demonstrá-lo de todas as formas. E para que o outro perceba e sinta esse amor - em qualquer um de seus conceitos - nós o expressamos mediante sinais exteriores significativos, de modo visível, através dos nossos gestos e atitudes.

Entre todas as manifestações do amor, é no cuidado com o outro que encontramos a maior abrangência e significado. Cuidar é dar afeto, é preocupar-se em preservar o outro de sofrimentos, e ainda mais. O cuidado vem antes de tudo e está em toda atitude e gesto. Os Paralamas do Sucesso cantam  “Cuide bem do seu amor seja quem for...”. Na verdade, não é possível falar de amor sem pensar em cuidado.

Mas o que vem a ser, em essência, o amor?

Essa pergunta o sábio Sócrates fez num banquete para celebrar o prêmio que o anfitrião havia recebido por uma de suas Tragédias. Num determinado momento, os convidados se propõem a competir discursando sobre o amor. Sócrates, solicitado para também elogiar o amor, diz que não poderia fazê-lo da forma que esperavam, mas, introduzindo o mito do nascimento de Eros, coloca que o amor é um símbolo da carência ou da necessidade, e não da perfeição ou plenitude. Assim, amar é a possibilidade de preenchimento pleno, é desejar o que nos completa e desejar é buscar; mas ninguém busca o que já possui, apenas aquilo que falta.

Então, muitas pessoas iniciam uma relação, casam-se, mais para sentirem-se preenchidas, ou por necessidade de segurança, do que pelo prazer da companhia do outro. Casam-se com a ilusão de que nada mais vai lhes faltar, e quando percebem que o outro não satisfaz completamente, que não preenche todas as suas necessidades, ficam frustradas e decepcionadas, com raiva, acham que o outro não ama, que o amor acabou. Quanto maior for a diferença entre a expectativa e a realidade, maiores serão as frustrações e consequentemente, as brigas.

Daí muitos não acreditam no amor porque vivem dependentes afetivamente do outro. Porque colocam sobre o outro a responsabilidade por sua felicidade, por satisfazer plenamente suas necessidades pessoais. Alguns entendem que no amor, para ser verdadeiro, devem estar presente os arroubos e rompantes que encontramos nos romances e novelas. Outros querem fundir suas personalidades numa só, absorvendo o outro, num desejo de simbiose, e não se dão conta de que ao buscar a fusão com o outro, entram num processo de aniquilação mútua.

Por isso é importante amar a si mesmo, aprender e desenvolver a capacidade de ficar bem sozinho, para compreender que é impossível alguém satisfazer todas as necessidades pessoais, tanto para o homem, quanto para a mulher. Reconhecer-se pessoa inteira e livre, para reconhecer a liberdade do outro e garantir a individualidade de ambos.  Isso quer dizer que não existe metade da laranja, mas duas laranjas inteiras. Duas pessoas livres, inteiras e completas, que desejam construir uma relação única, porque se desejam, e sentem prazer e alegria na companhia um do outro.   

Mário Lago, ator e poeta brasileiro, disse num de seus poemas: “Gosto e preciso de ti. Mas, quero logo explicar: não gosto porque preciso. Preciso sim, por gostar”.  Percebe a diferença?


Eliana Bess d’Alcantara
CRP 05/33535

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